Naughton Rocha de Araújo França
Faleceu,
depois de um longo e dolorido sofrimento, durante anos e anos de descaso e de
abandono, o Açude “José Américo de Almeida”, na cidade de Santa Luzia do
Sabugy. Assim mesmo, com este nome, que é o nome de carinho na lembrança do
nosso povo.
Ele
era o irmão mais rico, de um parto trigêmeo, ocorrido em 1933. Os outros
irmãos, o “Grupo Escolar Coelho Lisboa” e a “Agência de Correio e Telégrafo”,
também são importantes e ainda estão vivos.
O
Açude morreu com 80 anos de idade. Ele era maltratado constantemente, pois a
sua conservação, a cargo do DNOCS, era feita por pessoas desqualificadas e
admitidas pelo afilhadismo político-partidário; o que afasta o altruísmo. O
homem passa a servir ao dono, e não ao bem.
Praia artificial construida na administração de Mário Pergentino de Araújo
“E
ninguém pode servir a dois senhores.”
É
verdade, também, que o Açude não recebia os cuidados devidos por parte das
autoridades públicas estaduais e municipais e nem pelo povo do Município.
As
fendas na sua barragem, os vazamentos, os lixos e os esgotos sanitários jogados
nas suas margens, tudo isso era visto e nada se fazia para amenizar os seus
desgastes, os seus sofrimentos.
Ele
era o mais rico e o mais forte porque, em termos de ajuda, no sentido material,
com menos de dois anos de vida, ele já ajudava o povo de todo o vale do Sabugy,
mitigando a sede do seu povo e dos animais, além de ajudar na produção de
alimentos para todos; inclusive, com os peixes criados no seu reservatório.
Por
trás da Barragem, ele deu origem a um “Poço” de muita serventia para as
lavadeiras que ganhavam a vida lavando a roupa da população.
Era
também a “lavanderia particular” do primogênito do Major Quinca Berto do
Fechado, o primeiro “Senhor Feudal” do Vale do Sabugy.
Era
nesse Poço que, todas as manhãs, no despontar dos primeiros raios solares, o
Coronel Manuel Emiliano de Medeiros, nu, completamente nu, tomava o seu banho
diário. O Coronel prestigiava o Poço, e o Poço limpava a nobreza do chefe
político, que em muito ajudou para a fecundação dos trigêmeos.
Passeio de canoa
A
mãe dos três foi a Gestão do Estadista Getúlio Dorneles Vargas que, mesmo
recebendo um País em completo caos, depois da Revolução de 1930, com esses e
outros problemas, esse Governante, assessorado pelo seu Ministro de Viação e
Obras Públicas, o paraibano José Américo de Almeida, deram o parto, deram cria
e deram à luz a esses trigêmeos para prestarem os mais relevantes serviços ao
povo do nosso Vale.
Deram
à luz porque, enquanto o Açude matava a sede da população e dos animais e
alimentava os seus ribeirinhos, o Grupo Escolar abria um “Sol” de conhecimentos
para as nossas crianças; e esse “Saber” se reproduziu por muitas gerações.
O
povo da cidade deu o nome do Açude a José Américo, e José Américo deu o nome do
Grupo ao seu conterrâneo Coelho Lisboa, grande orador e senador brasileiro,
nascido na cidade de Areia, no brejo paraibano.
Banho da porta d'água (comporta d'água)
Os
administradores eram honestos e competentes, e, além do mais, possuíam o
sentimento da gratidão – “a mãe de todas as virtudes”.
Getúlio
recompensou o Estado que lhe ajudou tantas vezes. Somente o nosso povo, pela sua elite governante, é ingrato e
egoísta e latrocida. Mataram o Açude e estão roubando os seus restos mortais.
Não
querem limpar os entulhos e os aterramentos, querem tirar o que há de melhor em
seu meio para ganharem riqueza.
Açude cheio nas época de chuvas
Eu
o vi morto e chorei. Chorei muito. Chorei para dentro, juntamente com as
saudades e as recordações de tanta vivência em comum, nos melhores momentos de
nossas vidas.
Procuro
voltar ao passado, mas uma força dentro de mim não me permite; pois, toda vez
que volto ao presente, eu vejo o Açude morto, e choro mais, mais... e mais.!
Se
o meu amigo, Benedito Pergentino, fosse vivo, ele também iria chorar muito. Ele
nasceu no mesmo ano que nasceu o Açude. Ele, José Veiga, Juraci Caroca,
Francisco Raimundo de Medeiros.
Açude seco - 2013
Hipólito
Medeiros, Bastinho, Bebé de João Nery, Benivaldo, Hilton e tantos outros,
nasceram um pouco depois, já foram batizados com as suas águas.
Alguns
ainda estão vivos, muitos estão mortos. Mas, só o Açude pode reviver. Cristo
morreu com 33 anos, e o Açude nasceu em 1933. Acredito que não existe nada
interligando esses fatos. Mesmo porque, a Ressurreição de Jesus foi divina, e a
ressurreição do Açude vai depender do nosso povo! E, o nosso povo, salvo
raríssimas exceções, não presta mais!
O
Açude morreu sem ver a sua Elite pagar a dívida de gratidão para com os seus
“irmãos” que foram defender a pátria na 2.ª Guerra Mundial. Morreu sem ver o
“Monumento dos Pracinhas”.
Por
certo que, a Agência dos Correios e Telégrafos, a irmã mais esquecida – o preconceito
sempre existiu – vai avisar aos filhos distantes.
Naughton
Outubro de 2013
Fotos: Internet/facebook