terça-feira, 22 de agosto de 2017

NOTA DE FALECIMENTO: AÇUDE JOSÉ AMÉRICO DE ALMEIDA

Naughton Rocha de Araújo França

Faleceu, depois de um longo e dolorido sofrimento, durante anos e anos de descaso e de abandono, o Açude “José Américo de Almeida”, na cidade de Santa Luzia do Sabugy. Assim mesmo, com este nome, que é o nome de carinho na lembrança do nosso povo.

Ele era o irmão mais rico, de um parto trigêmeo, ocorrido em 1933. Os outros irmãos, o “Grupo Escolar Coelho Lisboa” e a “Agência de Correio e Telégrafo”, também são importantes e ainda estão vivos.

O Açude morreu com 80 anos de idade. Ele era maltratado constantemente, pois a sua conservação, a cargo do DNOCS, era feita por pessoas desqualificadas e admitidas pelo afilhadismo político-partidário; o que afasta o altruísmo. O homem passa a servir ao dono, e não ao bem.

Praia artificial construida na administração de Mário Pergentino de Araújo



“E ninguém pode servir a dois senhores.”

É verdade, também, que o Açude não recebia os cuidados devidos por parte das autoridades públicas estaduais e municipais e nem pelo povo do Município.
As fendas na sua barragem, os vazamentos, os lixos e os esgotos sanitários jogados nas suas margens, tudo isso era visto e nada se fazia para amenizar os seus desgastes, os seus sofrimentos.
Ele era o mais rico e o mais forte porque, em termos de ajuda, no sentido material, com menos de dois anos de vida, ele já ajudava o povo de todo o vale do Sabugy, mitigando a sede do seu povo e dos animais, além de ajudar na produção de alimentos para todos; inclusive, com os peixes criados no seu reservatório.
Por trás da Barragem, ele deu origem a um “Poço” de muita serventia para as lavadeiras que ganhavam a vida lavando a roupa da população.
Era também a “lavanderia particular” do primogênito do Major Quinca Berto do Fechado, o primeiro “Senhor Feudal” do Vale do Sabugy.
Era nesse Poço que, todas as manhãs, no despontar dos primeiros raios solares, o Coronel Manuel Emiliano de Medeiros, nu, completamente nu, tomava o seu banho diário. O Coronel prestigiava o Poço, e o Poço limpava a nobreza do chefe político, que em muito ajudou para a fecundação dos trigêmeos.


                                                         Passeio de canoa


A mãe dos três foi a Gestão do Estadista Getúlio Dorneles Vargas que, mesmo recebendo um País em completo caos, depois da Revolução de 1930, com esses e outros problemas, esse Governante, assessorado pelo seu Ministro de Viação e Obras Públicas, o paraibano José Américo de Almeida, deram o parto, deram cria e deram à luz a esses trigêmeos para prestarem os mais relevantes serviços ao povo do nosso Vale.

Deram à luz porque, enquanto o Açude matava a sede da população e dos animais e alimentava os seus ribeirinhos, o Grupo Escolar abria um “Sol” de conhecimentos para as nossas crianças; e esse “Saber” se reproduziu por muitas gerações.

O povo da cidade deu o nome do Açude a José Américo, e José Américo deu o nome do Grupo ao seu conterrâneo Coelho Lisboa, grande orador e senador brasileiro, nascido na cidade de Areia, no brejo paraibano.




                             Banho da porta d'água (comporta d'água)


Os administradores eram honestos e competentes, e, além do mais, possuíam o sentimento da gratidão – “a mãe de todas as virtudes”.

Getúlio recompensou o Estado que lhe ajudou tantas vezes. Somente o nosso  povo, pela sua elite governante, é ingrato e egoísta e latrocida. Mataram o Açude e estão roubando os seus restos mortais.

Não querem limpar os entulhos e os aterramentos, querem tirar o que há de melhor em seu meio para ganharem riqueza.

                          Açude cheio nas época de chuvas



Eu o vi morto e chorei. Chorei muito. Chorei para dentro, juntamente com as saudades e as recordações de tanta vivência em comum, nos melhores momentos de nossas vidas.

Procuro voltar ao passado, mas uma força dentro de mim não me permite; pois, toda vez que volto ao presente, eu vejo o Açude morto, e choro mais, mais... e mais.!

Se o meu amigo, Benedito Pergentino, fosse vivo, ele também iria chorar muito. Ele nasceu no mesmo ano que nasceu o Açude. Ele, José Veiga, Juraci Caroca, Francisco Raimundo de Medeiros.


 Açude seco - 2013
 

Hipólito Medeiros, Bastinho, Bebé de João Nery, Benivaldo, Hilton e tantos outros, nasceram um pouco depois, já foram batizados com as suas águas.

Alguns ainda estão vivos, muitos estão mortos. Mas, só o Açude pode reviver. Cristo morreu com 33 anos, e o Açude nasceu em 1933. Acredito que não existe nada interligando esses fatos. Mesmo porque, a Ressurreição de Jesus foi divina, e a ressurreição do Açude vai depender do nosso povo! E, o nosso povo, salvo raríssimas exceções, não presta mais!



O Açude morreu sem ver a sua Elite pagar a dívida de gratidão para com os seus “irmãos” que foram defender a pátria na 2.ª Guerra Mundial. Morreu sem ver o “Monumento dos Pracinhas”.
Por certo que, a Agência dos Correios e Telégrafos, a irmã mais esquecida – o preconceito sempre existiu – vai avisar aos filhos distantes.




Naughton
Outubro de 2013
Fotos: Internet/facebook