quinta-feira, 4 de julho de 2013

MÓNOLOGO DO AÇUDE NOVO

Sou o velho Açude Novo. Filho do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contras as Secas), que é filho de José Américo de Almeida. Filho de planejamento; porque filho mesmo eu sou do sertanejo e da natureza que, num jogo de amor estranho, me deram origem.

Construção do Açude Novo
 Aqui, a natureza arrependida de castigar o sertanejo, confabulou com ele num idílio comovente que chorava. E nas lágrimas, vertidas na forma de suor humano, surgiram as primeiras células do conteúdo líquido que é o meu ser. E essas lágrimas tépidas, caídas à custa de trabalho pesado, tocaram o céu que se enterneceu e lavou as encostas da Borborema. E as correntes cristalinas desceram das entranhas da serra, turvando-se em caminhos vários que culminaram com o Quipauá. E as águas, que daqui rolavam para outros rios, encontraram barreira - o meu peito aberto para um abraço duradouro.

Construção do Açude Novo

Cresci. Avolumei. Sangrei. Sou a redenção.
Carrego comigo a responsabilidade de servir os filhos de meu pai. Há 50 anos assim vivo. Os meus irmãos não conhecem o drama dos que são servidos pelo carro pipa.
Não sei por que estão me desprezando...

Construção do Açude Novo

Querem, por acaso, entregar-me a um abrigo de velhos? Querem dar-me a sorte do Açude Padre Ibiapina? Terno e velho amigo! Sereno, passivo, reduzido a um receptáculo de dejetos. Como te recompensaram tantos benefícios prestados!

Barreiras de areia, que a enchente arrasta na sua fúria impetuosa, aterram-me o bojo, diminuem minha capacidade. Camadas de excrementos turvam-me o brilho do olhar e a lua já não reflete em minha face para encanto dos namorados. Oh! Crueldade!

Os dois açudes cheios
O murmurar das minhas ondas de encontro ao paredão, num contraste sonoro lânguido e belicoso, tem o lamento da solidão e o grito lancinante da revolta.

Hoje, no meu aniversário, faço-lhes o meu apelo, ó irmãos;
Não cantem "parabéns a você".
Não louvem minhas glórias passadas.
Ajudem-me! Escavem-me o bojo, consertem-me o paredão, para que esse velho possa dar o orgulho de, na paisagem da "Ilha do Sertão", realçar a beleza do Açude Novo.

Lazer, passeio de canoa
Santa Luzia, 28  de agosto de 1983.

OBS: Esse monólogo encontrei entre minhas coisas e no mesmo não consta o nome do autor.
Fotos: Acervo particular.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

A EVOLUÇÃO DOS DITOS POPULARES

Com o passar dos tempos os ditos populares também vão evoluindo. Um bom exemplo para isso é esse aqui.

- Quem semeia vento, colhe tempestade.

Agora já pode-se dizer:

- Quem semeia vento, colhe energia eólica.