terça-feira, 13 de março de 2012

O PICO DO YAYU

Significado da palavra Yayu


Foto do Pico do Yayu visto do Monte de São Sebastião - Santa Luzia - PB

Em Santa Luzia há um morro isolado, que tem o nome de Yayu, nome esse perdido na origem dos tempos.
Há, por outro lado, uma lenda que diz ter sido uma mulher indígena que pronunciou as duas sílabas no instante da morte.
Essa mulher, deixando-se ficar no que pensava ser sua fortaleza, após o banho de sangue que Teodósio de Oliveira Ledo deu ao seu povo, empurrando-o sertão a dentro, é algo fascinante.
Posso senti-la, no horror de sua solidão, olhando estrelas ou curtindo os meses de verão, no abrigo de uma choça rústica, descendo, protegida pela escuridão da noite, à procura de comida, à procura de água, até que os brancos a pressentiram e a emboscaram e lançaram contra seu frágil corpo de mulher vaqueiros equipados pra romper juremais - fala-se que Yayu significa, textualmente, morro espinhento ou morro parecido com espicho, que seu formato sugere - e cães de caça, queilo era um animal predatório a ser caçado.
Subindo o morro, perseguida, seu coração solitário arrebentou e, caída, já na presença de seus perseguidores, apontou para o pico do morro e exclamou: "Yayu". E morreu.

ALI, DEUS.
Bom. Não sei se há tradução, realmente, para as sílabas pronunciadas por uma mulher anônima, sua morte seria indiferente à História não as houvesse pronunciado.
Mas é muita coincidência em línguas antigas, Sânscrito ou outras línguas mortas, que Ya seja um advérbio que significa ali, lá; e Yu, "O Ser Supremo" ou a "mãe de todas as coisas que veio do não ser", ou, ainda, o Ser Eterno dos taoístas, também traduzido por Mistérios. Em última análise, Deus. Ali, Deus - seria a tradução, complementada pelo braço estendido da mulher, apontando o pico do morro, muito alem do lugar onde caiu para morrer, acima do qual só existia o céu azul, salpicado de nuvens brancas.
Aquela mulher ao se deixar ficar, sozinha, no morro desolado, talvez estivesse a procura do Mistério, do Yu. Talvez. Dentro dela havia perguntas que não tinha como responder: Por que a destruição de gente, aquele holocausto, por que aquilo tudo? Ali, Deus. Talvez o que tinha vontade de dizer àqueles bárbaros brancos que destruiram sua gente, impiedosamente: ali, Deus.
Ou talvez fosse a resposta que procurava aos seus próprios anseios, só encontrada na hora derradeira: ali, Deus.

Texto original


Texto e foto - acervo de Mário Ferreira de Medeiros.

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