Mangai - Preta do cafezinho
Ao passamos por aquela preta simpática sempre a sorrir, ela nos impregna do misterioso fluído. O ambiente exótico, a iluminação sob palha, o zum zum, as pessoas vestidas a caráter, mocinhas sorridentes vestidas de Maria Bonita com a característica roupa cáqui e rapazes à la Lampião, vestidos com Zuartes, até David, o anão - um simpático garçom (que não teve tempo de crescer) - e o que é mais importante, a variada e saborosa comida. Tudo isso exerce uma influência no seu "eu", e quando deveríamos ser mais um expectador, passamos também a compor aquele "todo" e ser mais um personagem do espetáculo.
Então começa o show. Mas onde está o palhaço? Por mais que você o procure não vai encontrá-lo. Espera-se que ele apareça durante o espetáculo.
Apesar de toda exigência em relação ou como nós servimos, não reparamos que estamos sentados em uma cadeira de madeira rústica, com um acento de palha. Numa mesa mais rústica e sem toalha (onde naturalmente enxergamos uma toalha de linho bordada), Os copos onde seu suco é servido parecem replicas daqueles de 200 anos atrás.
Nada desaprova o misticismo do ambiente, e o espetáculo continua. Nos levantamos acompanhados dos nossos e nos dirigimos para a mesa dos mistérios. Quanta comida, quantas delicias, aí percebemos que não temos como saborear nem um quarto do que ali existe.
Como sair desse impasse? Encha o prato com tudo que puder, e volte a sua mesa rústica e se empanturre tentando saborear de tudo que você colheu.
Todos estão hipnotizados. A força do ambiente prevaleceu sobre todos e o espetáculo continua. Não tem estomago que suporte tanto. Você comendo e fazendo o "espetáculo". O tempo passa e ninguém repara. Finalmente quando o misticismo diminui, nos lembramos que tem uma vida lá fora e é preciso sair. Mesmo assim, ainda há muita relutância.
Levantamos e nos agrupamos próximo ao caixa, descontraidamente. Parece não querermos deixar aquele ambiente místico. Recebemos o bilhete que deveria ser o de entrada - como em todo circo - o qual nos dará liberdade de sairmos: A entrada é franca, mas na saída tem de pagar. E a preta simpática logo ali na sua frente, sempre sorrindo. Será que ela é feliz? Ou está rindo de você? Não, ela é simcera e nos deseja o bem e nos felicita e participa de nossa satisfação por termos saboreado tantos quitutes gostosos.
Saímos, e lá na calçada ainda, não estamos de todo liberto: Nova reunião, novo bate papo e então, percebemos que existe outro mundo, o mundo real. Todos nos despedimos e voltamos à vida.
Autor: Mário Ferreira de Medeiros (17/09/2010)
Foto: Francisco Roberto Ferreira
Nenhum comentário:
Postar um comentário