domingo, 19 de setembro de 2010

GRAND CIRCO MANGAI OU MAGIA DO MANGAI


Um ambiente onde não tem espectadores e todos são "artistas". Ao penetrar naquele ambiente exótico, com iluminação fraca, à meia luz, sem no entanto impedir que você veja tudo ao seu redor, uma decoração peculiar nos transporta às caatingas do nosso sertão.

Um eterno zum zum, ruído provocado pelos que entram, pelos que saem ou pelos que saboreiam as delicias advindas daquela mesa repleta de guloseimas, local onde recebemos os fluídos encantados do deus da Gastronomia e nos transportamos.

Somos apenas mais uma, dentre de todas aquelas figuras que compõem o ambiente. É magia? É uma força enviada pelos seres espirituais? Não sei! Para entramos naquele ambiente recebemos um bilhete (cartão) que será nosso amuleto, passe para tudo que irá se desenrolar.

Mangai - Preta do cafezinho

Ao passamos por aquela preta simpática sempre a sorrir, ela nos impregna do misterioso fluído. O ambiente exótico, a iluminação sob palha, o zum zum, as pessoas vestidas a caráter, mocinhas sorridentes vestidas de Maria Bonita com a característica roupa cáqui e rapazes à la Lampião, vestidos com Zuartes, até David, o anão - um simpático garçom (que não teve tempo de crescer) - e o que é mais importante, a variada e saborosa comida. Tudo isso exerce uma influência no seu "eu", e quando deveríamos ser mais um expectador, passamos também a compor aquele "todo" e ser mais um personagem do espetáculo.

Então começa o show. Mas onde está o palhaço? Por mais que você o procure não vai encontrá-lo. Espera-se que ele apareça durante o espetáculo.

Apesar de toda exigência em relação ou como nós servimos, não reparamos que estamos sentados em uma cadeira de madeira rústica, com um acento de palha. Numa mesa mais rústica e sem toalha (onde naturalmente enxergamos uma toalha de linho bordada), Os copos onde seu suco é servido parecem replicas daqueles de 200 anos atrás.

Nada desaprova o misticismo do ambiente, e o espetáculo continua. Nos levantamos acompanhados dos nossos e nos dirigimos para a mesa dos mistérios. Quanta comida, quantas delicias, aí percebemos que não temos como saborear nem um quarto do que ali existe.

Como sair desse impasse? Encha o prato com tudo que puder, e volte a sua mesa rústica e se empanturre tentando saborear de tudo que você colheu.

Todos estão hipnotizados. A força do ambiente prevaleceu sobre todos e o espetáculo continua. Não tem estomago que suporte tanto. Você comendo e fazendo o "espetáculo". O tempo passa e ninguém repara. Finalmente quando o misticismo diminui, nos lembramos que tem uma vida lá fora e é preciso sair. Mesmo assim, ainda há muita relutância.

Levantamos e nos agrupamos próximo ao caixa, descontraidamente. Parece não querermos deixar aquele ambiente místico. Recebemos o bilhete que deveria ser o de entrada - como em todo circo - o qual nos dará liberdade de sairmos: A entrada é franca, mas na saída tem de pagar. E a preta simpática logo ali na sua frente, sempre sorrindo. Será que ela é feliz? Ou está rindo de você? Não, ela é simcera e nos deseja o bem e nos felicita e participa de nossa satisfação por termos saboreado tantos quitutes gostosos.

Saímos, e lá na calçada ainda, não estamos de todo liberto: Nova reunião, novo bate papo e então, percebemos que existe outro mundo, o mundo real. Todos nos despedimos e voltamos à vida.

Autor: Mário Ferreira de Medeiros (17/09/2010)

Foto: Francisco Roberto Ferreira

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