
Prezado Amigo(a): Seja muito Bem-Vindo a este Blog. A proposta é manter aqui um espaço eclético no qual tratarei de publicar meus contos, referentes a meu rinção Santa Luzia, falar da sua história, e comentários sobre publicações dos escritores dessa cidade que tanto admiro. Faça seus comentários, através da página do Blog ou, ainda, pelo e-mail marioferreira5689@gmail.com
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
A ESTÓRIA DO MENINO CHAMADO CHICO

terça-feira, 2 de novembro de 2010
ZÉ MARIA
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
A MATRIZ DE SANTA LUZIA NA MINHA VIDA
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Itaquatiaras so Seridó Paraibano
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
O Som das Estrelas

E conversamos toda noite, enquanto.
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em pranto,
Direis agora. "Tresloucado amigo!".
Que conversas com elas? que sentido
Tem o que dizes, quando não estão contigo?
Pois só quem ama pode ter ouvido.
Capaz de ouvir e de entender estrelas.
Guilherme dos Santos Ferreira
domingo, 10 de outubro de 2010
RAÍZES DA INDÚSTRIA DA SECA
O CASO DA PARAÍBA
terça-feira, 5 de outubro de 2010
ALIMENTO DE PÍULA
sábado, 25 de setembro de 2010
TRADIÇÕES RURALISTAS

Aderaldo Ferreira

Aderaldo Ferreira é geólogo formado na UFPE, em 1962. Dedicou-se à Geologia Econômica, disciplina que lecionou no curso de Engenharia de Minas da UFPB (Campus II - Campina Grande), durante 15 anos. especializou-se em Gemologia na UFMG, fundou o Centro Gemológico do Nordeste, em Campina Grande, e foi coordenador até 1992, quando se aposentou.
domingo, 19 de setembro de 2010
GRAND CIRCO MANGAI OU MAGIA DO MANGAI
Mangai - Preta do cafezinho
Ao passamos por aquela preta simpática sempre a sorrir, ela nos impregna do misterioso fluído. O ambiente exótico, a iluminação sob palha, o zum zum, as pessoas vestidas a caráter, mocinhas sorridentes vestidas de Maria Bonita com a característica roupa cáqui e rapazes à la Lampião, vestidos com Zuartes, até David, o anão - um simpático garçom (que não teve tempo de crescer) - e o que é mais importante, a variada e saborosa comida. Tudo isso exerce uma influência no seu "eu", e quando deveríamos ser mais um expectador, passamos também a compor aquele "todo" e ser mais um personagem do espetáculo.
Então começa o show. Mas onde está o palhaço? Por mais que você o procure não vai encontrá-lo. Espera-se que ele apareça durante o espetáculo.
Apesar de toda exigência em relação ou como nós servimos, não reparamos que estamos sentados em uma cadeira de madeira rústica, com um acento de palha. Numa mesa mais rústica e sem toalha (onde naturalmente enxergamos uma toalha de linho bordada), Os copos onde seu suco é servido parecem replicas daqueles de 200 anos atrás.
Nada desaprova o misticismo do ambiente, e o espetáculo continua. Nos levantamos acompanhados dos nossos e nos dirigimos para a mesa dos mistérios. Quanta comida, quantas delicias, aí percebemos que não temos como saborear nem um quarto do que ali existe.
Como sair desse impasse? Encha o prato com tudo que puder, e volte a sua mesa rústica e se empanturre tentando saborear de tudo que você colheu.
Todos estão hipnotizados. A força do ambiente prevaleceu sobre todos e o espetáculo continua. Não tem estomago que suporte tanto. Você comendo e fazendo o "espetáculo". O tempo passa e ninguém repara. Finalmente quando o misticismo diminui, nos lembramos que tem uma vida lá fora e é preciso sair. Mesmo assim, ainda há muita relutância.
Levantamos e nos agrupamos próximo ao caixa, descontraidamente. Parece não querermos deixar aquele ambiente místico. Recebemos o bilhete que deveria ser o de entrada - como em todo circo - o qual nos dará liberdade de sairmos: A entrada é franca, mas na saída tem de pagar. E a preta simpática logo ali na sua frente, sempre sorrindo. Será que ela é feliz? Ou está rindo de você? Não, ela é simcera e nos deseja o bem e nos felicita e participa de nossa satisfação por termos saboreado tantos quitutes gostosos.
Saímos, e lá na calçada ainda, não estamos de todo liberto: Nova reunião, novo bate papo e então, percebemos que existe outro mundo, o mundo real. Todos nos despedimos e voltamos à vida.
Autor: Mário Ferreira de Medeiros (17/09/2010)
Foto: Francisco Roberto Ferreira
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
NOVENTA E DOIS ANOS
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
CURIOSIDADES - VOCÊ SABIA?
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
A Cabra Cheirosa
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Porque sou Medeiros


Impresso pela Editora Universitária/UFPB em 2006.
sábado, 21 de agosto de 2010
Que achei no monturo

no sítio que vovô tinha,
onde eu fazia as brincadeiras
Um ninho de galinha,
Tinha também lá no chão
Um retrato de Itó,
Existia um caixão
sem tranca nem fundo,
Um paletó todo imundo,

Retrato de Airton Sena,
Uma Philips... só a tela,
Tinha roi-roi e bate-bate,
Só vendo mesmo pra crer

um carretel sem linha,
Neste mesmo local,
Chocalho que não badala,
Tábuas de prateleira,
Não pude resisti
na hora fiquei contente,
mais que de repente
De um gato vi os dentes,
caixa de fósforo Argos,
Um caco de enxada
Uma sandália xereta,
A história não acaba não
Aqui dou por encerrado mais este relincho que cometo, ao retratar a infância de moleque pobre; digo, menino que gostava de bulinagem. Tal, como um passeio no monturo, tive literalmente de reviver e escrever; e lá estava ele com toda riqueza de material para ser transformada ou mais ecologicamente correto, ser reciclado. Reciclei-os em forma de trova e está aí o que fiz.
Tem as arestas do vernáculo que ainda estão por apará-las, não sei quando pois o português é bem cheio de coisas e normas, para a poesia são coisas d'alma (fica mais camoniano).
Havia mais outras tralharias velhas mas ficaria muito extensa e cansativa, embora hilaria como lata de pastilhas valdas, elixir sanativo, leite de magnésia, etc. Mas medicamentos velhos será outra estória.
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
O Chiqueiro da Onça
Ele contou-me que na época era vigário da freguesia de Santa Luzia, o reverendo padre Joaquim Alves Machado e que ele criava um cachorro bem bonito, grande e de muita estimação. Certa vez, o padre tendo sido sabedor das aventuras de Sebastião Abel, mandou pedir ao mesmo que quando pegasse uma onça, mandasse avisá-lo que ele queria conhecer a fera. E assim, se fez.
Certa Madrugada seguiu o padre numa comitiva de uns cinco cavaleiros e um portador - portador é aquele serviçal que quase sempre acompanha a comitiva de pé - isto nos tempos de antanho - ele levava pela corda o cachorro. Chegaram ao local no pé da serra, o sol acabava de nascer, apearam, amarraram os animais e pela vereda feita pelo caçador, subiram até o local do alçapão.
Todos olham e admiram o belo exemplar de onça, que já muito está nervosa pelo tempo que está aprisionada. Aí o padre diz: vou botar Tubarão na frente da fera, quero ver a coragem dele. Tubarão, era o nome do cachorro, tinha no pescoço uma coleira larga onde era presa uma corda de cabelo trançado em preto e branco, uma beleza de corda.
O caboclo praticamente arrastou o cachorro pra frente da onça e quando a fera avistou o cão, deu um grande esturro e partiu na direção do mesmo e só esbarrou quando bateu com a cabeça no gradil da porta.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Jeová Batista e o Museu de Santa Luzia

Jeová Batista de Azevedo foi um dos fundadores do museu de Santa Luzia, que com muito zelo e estima conseguiu formar um acervo estimado em mais oito mil peças encontradas na região do Seridó e demais circunvizinhas.
Em 1974, a coordenação estadual do MOBRAL/PB inaugurou seu posto em Santa Luzia e, entre os programas implantados, o que mais sensibilizou a comunidade, sem dúvida, foi aquele voltado para o patrimônio histórico e artístico.
Decorrente da importância do museu na vida do município surgiu à idéia do professor Renault Vieira de Souza de criar a Fundação Museu Comunitário de Santa Luzia, sociedade civil sem fins lucrativos, como instituição mantedora do museu e da biblioteca, constituída em 1984, voltada principalmente para a arte e a cultura. Pesquisa e história regional, tendo Jeová como Diretor Cultural.
No seu acervo consta uma pedra com a pegada de dinossauro

Outro instrumento de grande valor é um alaúde, de mais de 100 anos, de origem napolitana, doado ao museu por Dona Luzia Araújo. Esse instrumento foi de grande sucesso em fins da Idade Média. No alaúde lê-se a inscrição: "Arilletti Umberto - Nápoles.
Um clarinete, também com mais de 100 anos, que pertenceu a Nestor Tavares Nóbrega, fabricado em Ébano, de marca francesa. Uma flauta, que pertenceu a Iracema Araújo, fabricada em Paris, também com mais de um século. Flauta Transversal, de Joaquim Machado da Nóbrega, "Seu Joca", fabricado em Craviuna, pelo seu proprietário.
Um bombardino, aparentando ser muito antigo, estranhamente muito austero, de um dourado puxado ao vermelho com uma amassadura em sua campana. Segundo Jeová, esse instrumento pertenceu ao maestro Ezequiel Fernandes, uma figura lendária e muito querida na cidade. Quando Antônio Silvino invadiu Santa Luzia, foi a sede da filarmônica e ordenou a depredação dos instrumentos. O instrumento foi amassado em violentos golpes contra o solo, mas posteriormente passou por um trabalho de recuperação, embora permaneçam as marcas da violência.
Muitos outros objetos são encontrados no museu. Como um elegante tinteiro , de um refinado vidro esverdeado, com arabescos em baixo relevo folheados a ouro. Foi doado por Brasília Medeiros. Contava Dona Dalila, sua mãe, que o tinteiro foi trazido por seus avós quando chegaram da Europa para Olinda há muito tempo atrás. Tinham eles um pequeno animal de estimação, um inteligente macaco que certo dia desapareceu da Casa Grande. Tempos depois o macaco reapareceu. Trazia consigo, guardado com muito ciúme, o belo tinteiro verde, com filetes dourados.
O visitante do Museu de Santa Luzia tem para apreciação um acervo diversificado e bem organizado estruturalmente dividido em coleções. A de "Arte Sacra", tais como pia batismal, imagens, sinos e objetos litúrgicos. À coleção "Armaria", formada por armas brancas, espingardas, garruchas, "Munições", com peças utilizadas na Revolução de 1930. "Numismática", formada por moedas de diversos períodos: colonial, do Império (Primeiro e Segundo Reinado), da República - a moeda mais antiga data de 1715.
A coleção "Material Lítico", composta por minérios extraídos na região por garimpeiros e pesquisadores: berilo, turmalinas, mica, perita, amianto, colombita, quartzo, etc. "Arte Indígena", arcos, flechas, lanças, etc. "Máquinas de Costura", diversas épocas. "Instrumentos Musicais": formada por instrumentos antigos que pertenceram aos membros da Banda Musical 23 de Maio, de Santa Luzia, fundada em 1874.
"Apetrechos": objetos de indumentárias, bolsas, sapatos, carteiras, cintos, fivelas, etc. "Cerâmica": material proveniente de demolições de casas antigas da cidade e, também, de cerâmica, utilitária e de adorno produzidas na região. A coleção "Mobiliário", com peças de períodos diversos que remontam à criação do Município. "Documentos": certidões, textos referentes a história do Município. "Iconografia": fotos, retratos de figuras, prédios, fatos da cidade e do Estado. "Diversos": constituída por variadas peças como discos, ferramentas, lamparinas, etc.
Tudo bem explicado, assim, deixa a impressão de que Santa Luzia conta com um Museu ao estilo das cidades barrocas mineiras, assistidas pela Funarte e outras fundações que cuidam da memória nacional. Na verdade, a singela cidade sertaneja, cercada de água por todos lados, conta apenas com a forma real-mágica de encarar a vida, do marcante personagem Jeová Batista, o seu Museu Municipal.
O Museu é dividido em 16 sessões, o que faz com que os assuntos se misturem, já que conta apenas com oito salas. O prédio pertencia ao antigo Posto de Saúde, e não passou por nenhuma adaptação para o funcionamento de um museu. Não há a mínima condição de segurança, não só contra roubos, também contra agentes naturais.
E pelas palavras do museólogo Jeová Batista: "Talvez o nosso acervo, tudo junto, não valha, em moeda corrente, o preço de um milhão. Mas aqui está viva, toda a História de uma cidade, que não é tão antiga quanto Roma, mas que já não é tão nova, como Brasília, por exemplo. E é para isso que estamos trabalhando para preservar a memória do homem da terra".
O Museu hoje se chama Museu Jeová Batista, em homenagem, àquele que muitos anos cuidou das peças e do acervo do museu por muitos anos.
Fonte:
Jornal A UNIÃO (João Pessoa, 27 de maio de 1984).
Reportagem: Armando Marinho.
Fotos: Ernani de Souza (Jeová) e Francisco Roberto (machado de pedra).
Redação Final: Francisco Roberto
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
JUDAS NO TAPUYO

Saí cedo cheguei primeiro
Cheguei acordando o povo
Acordei até o vaqueiro
Queria comer o churrasco
Do invisível carneiro
Acordei Zé Arthur
Judith e o velho Marão
Dei carona a Zé Ferreira
Em busca do Carmitão
Aqui encontrei Zé Mário
Que ajeitava o rifário
Pra botar o Judas no chão
Tinha revólver e espingarda
Tinha pistola e cravina
Pois se sou atirador
Vim comprir minha sina
Atiro no nó da corda
Que o Judas velho entorta
E dispara lá de cima
E quando o Judas caiu
Foi aquela animação
Mário o dona da casa
Butou o Judas no chão
E alegre como um vem-vem
Recebeu os parabéns
Por Paulo Romero Ferreira
Almanaque do Quipauá 2008
terça-feira, 3 de agosto de 2010
O Testamento de Judas

Aos meus compadres amigos Mário e Alziva deixo estas terras ao nosso redor, terras que são férteis e, que sendo bem executadas, produzirão. E que dona Alziva tolere o marido por mais algum tempo.
Para Zé Mário, moço valoroso e trabalhador, deixo minha máquina de foliar formiga e a borracha d'água. Quero que, com a máquina, que é de tecnologia de última geração, possa combater a saúva no sítio. A borracha é também de fabricação ultra-moderna, gela e filtra em segundos.
Para Reynaldo, moço de muita capacidade e inteligência, a minha caneta de estimação. Com ela você poderá fazer seus escritos, os de maior valia.
A Marco Antônio, pessoa boa, vivo e esperto, deixo o meu chicote e o facão, peças raras de meu uso com os quais nunca perdi uma peleja.
Para a doutora Socorro, moça de muitas prendas, a fim de que possa aprimorar e embelezar seu consultório, deixo o meu porta canetas, obra de arte, já exposta nos grandes salões.
Para Lucinha, moça historiadora e muito prendada, deixo o meu Lunário Perpétuo para que ela, além de conhecedora do passado, possa, com ele, prognosticar também os tempos futuros.
Para Rosalba, moça valorosa, amada do marido, ciosa dos filhos, com muito apreço deixo o meu anel, jóia de grande valia com a qual sempre compareci aos grandes furdunços.
Ao Dr. Aderaldo, geólogo de muita fama e capacidade, deixo minha batéia. Com ela sempre peguei algum ouro. Deixo também essa barra-mina para que possa cavocar nas minas de mais encantos.
Para o Major Paulo, cavalariano de muita punjança e valor, deixo o meu loro com estribo, peça que sempre usei nas minhas grandes aventuras equestre. Deixo também esse chocalho do meu boi barbatão, para que o tenha sempre na garupa da sela.
Para Wandick, moço estimado e de boa índole, o meu tabaqueiro nada melhor para levantar o ânimo que umas nargadas de torrado.
Para Judith, minha prima de coração, deixo o meu cachimbo de estimação para que ela possa pitar nos momentos de cismas.
Ao Dr. Expedito da Dona Carmita, moço forte e valente que está sempre apressado, deixo a minha ampulheta, tecnologia de primeiro mundo, para que ele possa regular o seu tempo, não se atrasando nos seus horários.
Para Guido de Dona Lia, que ninguém chama de doutor, , moço bom, amigo dos amigos, advogado que não trabalha com leis, deixo esta miniatura da Constituição para que ele veja que há pouca diferença daquela em vigor.
Ao Dr. Jumar, moço manso, risonho e já carecando, deixo o meu chapéu para ele se proteger das grandes canículas.
Para a doutora Amazile, dentista de muita valia, deixo este compêndio, obra recém-publicada, para que ela aprimore os seus conhecimentos.
Para Loló e Rosália, de alcunha Casal Vinte, moços de muitas prendas, para que mais aperfeiçoem o seu já modesto consultório, deixo esse alicate, peça moderníssima de moldar coroa, e essa miniatura de dentadura para lhe servir de modelo.
A Jaime Dantas, moço que não gosta de gaita, deixo a minha broaca, embora sem nenhum recheio.
Para Zezé Araújo, moço novo, bem aquinhoado, político, amigo dos necessitados, deixo o meu peso de estimação para que ele possa aferir os seus, e essa trena para ele medir seus passos nos caminhos tortuosos da política.
Ao meu amigo e parente Cândido, deixo um dos meus canecos para que ele possa tomar a sua cerveja com mais gosto. E como ele está ingressando no ramo do leite, o meu funil que tantos anos usei coando leite.
Para Mário Neto, esse guri irrequieto, deixo essa chavinha para que, com ela, possa trancar o armário dos seus badaluques.
A Rafael, jovem forte caladão e curioso. deixo essa casa miniatura que, com suas aptidões, venha a montá-la.
Para as bonecas da festança, Natália e Lorena, porque não têm com que brincar, deixo as minhas calungas de estimação.

Às minhas queridas netas Carmem, Pretinha, Lígia, Lúcia, Luíza, Iza, Conceição, Teca, Maria do Carmo e Neném, que estão aí com cara de triste achando que não foram enxergardas, deixo para cada uma delas uma escolha a sua prenda. Peço, porém, que não vão aos muxições, com brigas na hora da escolha.
A Clodomiro caçador de muita fama e valia, deixo o meu polvarino e cartucheira, e que faça bom proveito.
Para Maria, a minha panela, para que ela possa cozinhar os quitutes de Dona Alziva.
A Amaury, moço apaixonado pelo futebol, deixo essa bola semelhante à Copa da França.
Para Chico Jacinto, moço bom trabalhador, que sempre atende nas horas certas, deixo a minha capa impermeável para que jamais fique na chuva, e esse belíssimo baralho com qual sempre ganhei todas as paradas.
Para toda mocidade linda aqui presente, deixo esse mundo bonito e cheio de promessas, para que gozem tudo dele enquanto têm punjança de vida. Que vivam e vivam muito, aproveitem cada momento, que a vida é curta e não se repete. Toda hora é hora para viver e ser feliz.
E, como pelo menos uma vez quero ser justo com todos, mando que o testamento faça um sorteio dos 30 dinheiros. E que ganhe o de mais sorte.
Judas Florêncio das Grandes Tormentas.
sábado, 31 de julho de 2010
A PROMESSA
A vida na Vila de Santa Luzia transcorre pacata, o povo vive feliz. Pode-se até dizer que a felicidade mora ali.
Chega a notícia de que uma coluna de revoltosos se aproxima da Vila. Aí o medo. É que a coluna denomida "Os Franklins", numa revolta organizada com o intuito de depor o governo estadual, comandada pelos coronéis Augusto Santa Cruz e Franklin Dantas, se aproxima. Ela passa pelas cidades praticando absurdos, desrespeitando as famílias, saqueando. Partira de Monteiro, ocupara Patos, e marcha rumo a Santa Luzia.
Ao chegar aqui, os Franklins desarmam toda força policial, levando todas as armas e munição. Soltam os prisioneiros, alguns condenados, como João Carga D'Água, Antônio Germano e Bento quirino, homens que se incorporariam à coluna. O delegado Epaminondas Trindade, completamente indefeso, acha por bem dar no pé. De Santa Luzia a coluna segue para Soledade, São João do Cariri e, ao se dirigir para Campina Grande, já em Serra Branca, seria surpreendida por forças do Exército, que haviam sido requisitadas pelo Governo Estadual, e aí dissolvida.
Passada uma semana, por coincidência ou por haver tido conhecimento da passagem da Coluna Santa Cruz (assim, também chamada), Antônio Silvino com seu bando marcha rumo à terrinha. O cangaceiro havia criado um rancoroso ódio ao coronel Aristides, achando que era o responsável pelo trucidamento de seus cabras, Pimenta e Macambira que, desgarrados do seu grupo, ao passar pela Vila, foram presos.
A HISTÓRIA
Os dois vinham com muita sede, e ao se aproximarem de uma cacimba na beira do rio, para saciar a sede, foram avistados por um soldado que suspeitou deles, e deu voz de prisão. Na cadeia, confessaram quem eram e alegaram que tinham desertado do bando de Antônio Silvino no fogo da Pedreira - esse caso ocorreu possivelmente uns dois anos antes, portanto em 1910. Foram então tomadas as providências para levá-los dali. Aristides, chefe político, não queria aqueles homens perigosos na Vila. Por esses dias apareceu de passagem um tal de Tenente Tolentino, vindo do alto sertão com uma volante rumo à capital, que se prontificou a levar os dois cabras. Pediu o reforço de dois praças ao delegado prosseguiu a viagem levando os bandoleiros. Ao que tudo indica, logo que se afastou da Vila, ao passar pelo sítio Olho D'Água das Lages, vizinho ao sítio de Sebastião Félix, parou e mandou que os cabras cavassem uma cova, e, ali mesmo, atirou nos dois. Um deles ainda estava vivo quando foi sepultado. Mandou os dois praças de volta e prosseguiu viagem. Esses praças é que deram a notícia do ocorrido.
O sítio Olho D'Água das Lajes pertence hoje ao senhor Etevoldo Cabral que, dono de um coração muito grande, mandou construir um jazigo e uma capelinha no local onde os dois rapazes foram trucidados.
- Desça daí, velho safado, pra morrer!
- Safado é você - responde Aristides - que sai por aí matando e roubando! Eu sou um homem honesto.
Silvino, muito irritado, puxa o velho e bate nele. Ameaça matá-lo e toda sua descendência. Aristides replica: "Bate e mata, mas mata um homem". Silvino age livremente, não encontra nenhuma resistência, pois a polícia está completamente desarmada. Sai batendo e humilhando Aristides pelas ruas.
Ao passar pela frente da casa de Manuel Emiliano, pessoa importante na Vila e bem acatada por Silvino, Yayá sua esposa sai de casa e implora ao cangaceiro, dizendo ser o coronel inocente do caso, e pessoa muito boa querida de todos.
- Capitão, pelo amor de Deus, atenda meu pedido, não mate meu pai!
O coração da fera estremece, não tem como faltar. É muito forte a emoção ao pedido daquela jovem.
Lá na Carnaúba, o maestro Ezequiel Fernandes tem conhecimento de que estava ocorrendo com seu sogro e amigo. Desce do Alto da Boa Vista para lhe dar apoio. No caminho fica sabendo que os bandoleiros amassaram e quebraram os instrumentos da banda, da qual é o maestro. Ao cruzar o Rio Quipauá, tem um enfarto e ali mesmo entrega sua alma a Deus.
Por prevenção, temendo as ameaças do cangaceiro, pessoas aconselharam que Zezé - que era genro de Aristides - retirasse a família de casa para evitar maiores vexames. Ele ouviu o conselho e levou a família para a casa de Manuel Emiliano. Lá, acomodados em um quarto, ficaram aguardando os acontecimentos. Maria Amazile (Lia), porém, não suporta aquela humilhação, sai e vai para o quintal da casa de Joaquim Berto, seu avô.

Muito preocupada e sofrendo pelas notícias que chegam aos seus ouvidos, pede auxilio dos céus. Devota de Nossa Senhora Auxiliadora, faz-lhe uma súplica e promete que se Nossa Senhora fizer com que Antônio Silvino vá embora sem matar e sem causar maiores danos, ela irá trabalhar e, com o ganho do seu trabalho, comprará sua imagem para que seja colocada no altar, que ainda está vago.
Lia se casa com Zé Ferreira, não esquece o compromisso com Nossa Senhora. O matrimônio nada muda na sua decisão de pagar a promessa que fizera para salvar Aristides e a cidade da sanha do cangaceiro. Vão residir no Fechado - Zé Ferreira como administrador da fazenda de Quinca Berto, avô de Amazile. Lá, nas horas vagas, ela faz queijo e guloseimas que manda vender no Espírito Santo - Ouro Branco - e daquela vendagem tira as despesas e tudo sobra vai sendo amealhado para pagar a promessa.
Volta para Santa Luzia. Seu tempo é exíguo. Nos 10 anos de casada, pare dez filhos. Mesmo assim, no pouco tempo que lhe resta, trabalha fazendo pirulitos e outros quitutes que manda vender. Observe-se que seu marido, Zé Ferreira, tinha boa situação financeira, mesmo assim, Lia, para o cumprimento de voto à Santa, nunca quis receber nada do esposo.
- Mas Lia - diz ele - eu não quero seu dinheiro. Eu posso comprar essa imagem para você!
- Mas Zé Ferreira, é um compromisso com Nossa Senhora.
Ela conta toda história ao marido. Ele concorda, viaja ao Recife. Traz a imagem. Conversam com o vigário, padre Belisário, e a imagem é posta no altar no lado esquerdo da nave da igreja.
Lia está para descansar e, na noite de 16 para 17, dá a luz a uma menina que ganha o nome de Maria Amazile - Maria Novinha para os irmãos, e acontece o pior. Lia não resiste e é levada à presença do Senhor. Muita dor, muito sofrimento, todos choram e lamentam a tragédia. Mas é a vontade de Deus. Ela, apenas uma menina, com seus 27 anos, sucumbe. O destino? Desígnios do Senhor?
Minha benção, minha Mãe.
Santa Luzia, julho de 2009.